O que é o Desdobramento de Ações?


 

O que é o desdobramento de ações e como esse processo interfere na vida do investidor e da própria empresa listada em bolsa? No texto de hoje elencamos mais informações para você entender tudo sobre o tema. Abaixo, você irá encontrar:

  • O que é o desdobramento de ações?
  • Como funciona o desdobramento de ações
  • Como fica o acionista?
  • O que é o Grupamento de Ações?
  • Por que fazer um desdobramento?
  • O Bid–ask spread
  • Como o mercado reage ao desdobramento?
  • Exemplos Recentes: MGLU3, BIDI4 E DEXP3

Boa leitura!

O que é o desdobramento de ações?

Um desdobramento de ações ou “split” ocorre quando uma companhia divide a quantidade de suas ações existentes para tentar aumentar a liquidez. Dessa forma, o número total de ações da companhia aumenta e o preço nominal das ações diminui, sem alterar o valor real dos ativos. O desdobramento é feito em uma proporção fixa, sendo os desdobramentos mais recentes na bolsa brasileira na proporção de 1:8, 1:6 e 1:4.

Como funciona o desdobramento de ações

Toda companhia que deseja fazer “split”, precisa da aprovação de seu conselho de administração. Dessa forma, os gestores preparam uma proposta que é levada até o conselho, contendo justificativas para tal ação, que sendo aprovada divide as ações da companhia. Vale lembrar que instituições financeiras com capital aberto precisam também da aprovação do Banco Central para efetuar o desdobramento.

Como fica o acionista?

Acordada a proporção do desdobramento, o acionista passará a deter um número de ações que iguale o valor financeiro que ele possuía antes do desdobramento.

Vamos supor que o Investidor X possui 100 ações preferenciais do Banco Inter cotadas a R$ 240 reais. Ele possui 24.000 reais de capital investidos em BIDI4.

Como ficará a situação dele supondo que o banco aprovou um “split” de 1:8, ou seja, dividiu o valor de todas as ações existentes em 8?

Ele ficará com 800 ações preferenciais do Banco Inter, agora cotadas a R$ 30,00 cada uma.

O que é o Grupamento de Ações?

Às vezes, confundido com o desdobramento, o grupamento de ações, ou “inplit”, é a operação contrária ao desdobramento. Ocorre quando a companhia agrupa a quantidade de ações existentes, reunindo várias ações em uma. Aumentando o preço nominal das ações e diminuindo a quantidade de ações existentes.

Os grupamentos também são feitos em proporções fixas, sendo diversos casos na bolsa brasileira em proporções grandes, como 20:1, 10:1, 5:1.

O grupamento ocorre quando uma companhia precisa aumentar o preço da ação para facilitar suas negociações na bolsa. No Brasil, a B3 notifica as empresas que possuem um preço nominal das ações menor que R$ 1,00, intimando-as a realizar grupamento. Isso porque a volatilidade das ações ditas penny stocks é em média muito maior que a das ações normais, uma variação de R$ 0,01 em uma ação que vale R$ 0,05 (caso da OGX em 2015) representa uma alta de 20%, enquanto que a mesma variação em uma ação cotada a R$ 1,00 representa uma oscilação de 1%.

Como fica o acionista?

O grupamento também não altera o valor real das ações. Supondo que agora você possua 1000 ações de OGXB3, cotadas a R$ 0,05, supondo que a companhia vá realizar um grupamento de 100:1, você que passará a ter 10 ações da mesma OGXB3, agora cotadas cada uma a R$ 5,00. Seu capital investido de R$ 50,00 não se alterou.

Por que fazer um desdobramento?

O desdobramento de ações é uma prática comum que começou há muito tempo, dados de 1930 mostram que 837 das 131 ações da NYSE já haviam feito “split” uma ou mais vezes entre 1921 e 1930 (Lakonishok, Josef & Lev, Baruch, 1987).

A pergunta que fica é: se o desdobramento de ações causam apenas mudanças no preço nominal, não alterando o valor real, por que companhias continuam desdobrando suas ações quase um século depois?

Segundo as próprias empresas, porque tornam as ações mais acessíveis aos investidores.

Como assim mais acessíveis?

O desdobramento geralmente ocorre após uma forte valorização nas ações de uma companhia, com o preço nominal saindo do range normal de mercado. Esse foi o caso das ações do BTG Pactual que há pouco aprovaram o desdobramento das ações na proporção de 1:4.

O preço nominal das ações do BTG saiu de R$ 50,00 para R$ 120,00 em um ano, o que torna o lote de ações (100 unidades) menos acessível para o pequeno investidor, que agora precisa ter um montante de R$ 12.000,00 para comprar um lote de ações do banco.

Com o desdobramento proposto (1:4), e supondo que não haja nenhuma alteração no preço, o pequeno investidor vai conseguir adquirir um lote de ações do banco por aproximadamente R$ 3.000,00. Não havendo assim, necessidade de recorrer ao mercado fracionário.

E em que isso ajuda?

No aumento da liquidez das ações preferenciais e ordinárias da companhia que efetivou o desdobramento, já que agora investidores menores podem negociar os lotes cheios.

O Bid–ask spread

Um dos principais problemas das ações sem liquidez é a diferença entre o preço de compra e venda de uma ação. Ao adquirir a ação, o investidor não conseguirá se desfazer imediatamente pelo preço que comprou, isso porque não possuem muitas ordens de venda no livro de ofertas.

Vamos a um exemplo real:

Se você comprar à mercado 300 ações da Inepar (INEP3), pagará R$ 66,55. O problema é que para vender essas 300 ações, você teria que “arrastar” o livro de oferta até a ordem de R$ 65,20, gerando um prejuízo na operação encerrada.

Agora, pare e pense na situação de um investidor com um grande capital. Ele resolveu colocar 1% do seu patrimônio líquido nas ações preferenciais da Inepar, supondo que ele iria aportar R$ 1.000.000 na companhia, começaria comprar em R$ 66,55 e só pararia depois de R$ 67,41. Pagando um spread de mais de R$ 1,00 no preço da última negociação.

O ponto aqui é que em casos como esse, a empresa realiza desdobramento de ações (o da Inepar está marcado para o próximo mês) justamente para atrair mais investidores e deixar a ação mais acessível, reduzindo esse spread no livro de ofertas.

Como o mercado reage ao desdobramento?

Um dos estudos mais importantes sobre o tema, contou com a participação de Eugene Fama, ainda buscando mais suportes para a hipótese dos mercados eficientes:

Em artigo sobre o ajuste dos preços das ações a novas informações, Fama et al. (1969) examinaram se os desdobramentos de ações eram associados com retornos não usuais de ações. Chegou-se à conclusão que os “splits” eram quase sempre associados com o aumento de dividendos, dessa forma o mercado passava a incorporar novas expectativas com o “split”, aumentando a expectativa sobre a renda de proventos.

As evidências indicam que, em média, o julgamento do mercado sobre o “split” era totalmente refletido no preço das ações pelo menos até o fim do mês do desdobramento, sendo mais provável que fosse tudo embutido no preço imediatamente após a data de anúncio.

Em estudo posterior, de Lamourex e Poon (1987), verificou-se que a partir dos “splits” há um aumento do número de transações e de ações negociadas, aumentando a volatilidade de preços das ações. Além disso, também estabeleceram que há uma reação anormal positiva do mercado aos anúncios de desdobramentos.

No mercado brasileiro, em estudo utilizando 306 observações de desdobramentos entre 1992 e 2016, RM Antônio, RM Sticca, MA Ambrozini (2018) verificaram que as ações apresentaram retornos anormais médios positivos após desdobramentos de ações. Sendo um retorno anormal médio positivo de 1,96% no dia do evento. No mesmo estudo, também foi observado um retorno anormal médio negativo de 1.50% em 479 observações de grupamentos de ações entre 1989 e 2016.

Focado no longo prazo e com uma amostra maior, o estudo de Desai, H., & Jain, P. (1997) examinou 5.596 anúncios de desdobramento no mercado americano, chegando a conclusão similar. Houve um retorno anormal médio de 7,11% no mês de anúncio de desdobramento dessas ações, além de observar que o mercado não incorporava totalmente no preço das ações o desdobramento, tendo um retorno anual anormal de 7,05% um ano após o anúncio e de 11,87% três anos após o anúncio.

Antes de irmos para os exemplos, é importante ressaltar que apesar de termos as evidências acima, nenhuma delas garantem que se uma empresa anunciar um desdobramento suas ações irão subir, os dados mostram que é provável que sim, mas é sempre importante analisar cada caso.

Exemplos Recentes:

Magazine Luiza

Provavelmente o mais emblemático caso de desdobramento de ações. A Magazine Luiza (MGLU3) fez o seu primeiro desdobramento em 4 de setembro de 2017, com as ações, na época, cotadas a R$ 621,79. Foi decidido em AGE um “split” de 1:8, que acabou contribuindo para um aumento acima da média no volume de negociações.

Em agosto de 2019, a Magalu fez o seu segundo desdobramento de ações, novamente de 1:8, dessa vez com as ações cotadas já em R$276. O mais recente desdobramento foi feito em outubro do ano passado, dessa vez na proporção de 1:4, com as ações em um patamar superior ao de R$100,00.

Coincidentemente, as ações da Magalu tiveram um retorno positivo após todos os desdobramentos, fazendo quem investiu na empresa na data do primeiro desdobramento ter um retorno de quase 900%.

Dexxos

As ações da Dexxos S.A (DEXP3), companhia que na época tinha o nome de GPC Participações (GPCP3), foram desdobradas em setembro de 2020, na proporção de 1:5.

As ações também tiveram retornos anormais no período de desdobramento, fazendo com que a cotação saísse de R$14,67, no dia 10, e atingissem R$21,67 no dia 18.

Banco Inter

O mais recente dos exemplos, as ações do Banco Inter (BIDI4) caíram forte após o anúncio do desdobramento (proporção de 1:3), saindo de R$ 25,08 (20 de maio) para R$ 19,07 (21 de maio). Apesar disso, as ações recuperaram após a aprovação do desdobramento pelo Banco Central, atingindo R$ 24,44 (24 de maio).

Conclusão

Ao ler mais resultados positivos nos exemplos recentes, talvez você ainda fique com a impressão de que é um bom negócio comprar ações que estão para se desdobrar, até porque temos evidências no mercado brasileiro que ações apresentaram retornos anormais médios positivos após os desdobramentos.

Contudo, é importante ressaltar que isso não quer dizer que desdobramentos causam valorização nas ações das empresas ou que se uma empresa anunciou um desdobramento, suas ações irão valorizar.

Logo, o que podemos tirar daqui é que os desdobramentos são importantes para ajudar a acabar com problemas de baixa liquidez como o alto spread no livro de ofertas, mas certamente não alteram o valor real das empresas.

Referências

ANTÔNIO, R. M.; STICCA, R. M.; AMBROZINI, M. A. Quais Eventos Corporativos Influenciam os Retornos das Ações? Um Estudo Baseado em Bootstrap. Revista Universo Contábil, v. 14, n. 3, p. 28-45, 2018.

Lakonishok, Josef, and Baruch Lev, 1987. Stock Splits and Stock Dividends: Why, Who, and When, Journal of Finance 42, 913-932.

Fama, E., Fisher, L., Jensen, M., & Roll, R. (1969). The Adjustment of Stock Prices to New Information. International Economic Review, 10(1), 1-21. doi:10.2307/2525569

Desai, H., & Jain, P. (1997). Long‐Run Common Stock Returns following Stock Splits and Reverse Splits. The Journal of Business, 70(3), 409-433. doi:10.1086/209724


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